AMIGOS PARA SEMPRE

Roberto e Guacho

Mingo, Suécia e Aldo(sabiá)


Eddo, Mingo, Cisella e Thiago


Guacho e Aldo Sabiá

Se meu Caminho começou perdido, o seu final foi de encontro.
Encontro com amigos com quem pude rir,
amigos com quem pude desabafar,
amigos que tive o privilégio de ouvir e
amigos que se permitiram confidenciar
assim como se confidenciam verdadeiros amigos.

Amigos que o Caminho fora nos apresentando,
amigos que se despediram,
mas amigos que morarão em nossa alma e espírito.

Amigos como Eddo, Cisella, Thiago,
Suécia, Mingo, Guacho, Aldo e
tantos outros que o Caminho generosamente nos presenteou.

Despeço-me citando Milan Kundera:
A amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.

CONFISSÕES DE UM PEREGRINO

No livro de peregrinos na manhã de 23 de agosto de 2010 no albergue de Saint-Jean-Pied-de-Port constava a inscrição: "Dedico esta minha caminhada a minha esposa Lucy e meus filhos Marion e Conrado a quem amo profundamente".
Poucos quilômetros de caminhada e já pressentira algo que me assustaria, tanto eram as perguntas: o porquê de uma segunda viagem e as razões para a sua realização. Teria sido movido apenas por um espírito egocêntrico e de aventura ou simplesmente saudosismo e resgate do que fora a primeira?
Somente ao entardecer, após um extenuante dia, física e mentalmente e de muito refletir sobre os "por quês" que compreendera para alívio d'alma que a razão de alí estar não estava mais em mim. Estavam contidas no livro de peregrinos de Saint-Jean. Esta revelação iluminou meu espírito e me deu forças para prosseguir pelos 800 kms da rota.
Sózinho eu não estava no Caminho e nem ele em mim. Mas com eles prosseguira determinado por toda a jornada. Eles foram a força salvadora de um Caminho que começara perdido.
ROBERTO FERNANDES

AGRADECIMENTOS

(clique na foto para ampliar)

Marco zero de Finisterre

Mingo e Guacho

Thiago e Aldo em Finisterre (fim da terra) como era conhecida

antes das Américas.

Antigo hotel dos reis católicos - em frente à Catedral

Catedral de Santiago de Compostela

Ritual de queima de alguma vestimenta usada durante

a caminhada e simboliza o despojamento de algumas das tantas iniquidades

acumuladas na trajetória de vida.

CABO DE FINISTERRE

Costa do Atlântico

UM CAMINHO QUE ACABA OU COMEÇA?

Eis a pergunta que fica a quem caminhou e a quem acompanhou toda esta trajetória.
Foi difícil sim e como não há super-homens e nem heróis nesta história, foi preciso muita persistência. E quando não somos o suficientemente fortes? É aí que surge uma das maiores qualidades do ser humano, que é o de fazer o bem, desejando o bem ao seu semelhante. Ao atingirmos a praça do Obradoiro, defronte a Catedral de Santiago, fomos até ali conduzidos por pés e pernas. Porém isto apenas não bastava e não bastou. Nossas mentes foram, durante este quase mês de caminhada, sendo alimentado por uma legião de amigos, familiares e talvez tantos outros que nem sequer conhecemos, mas que participaram desta corrente, desta energia tão poderosa e capaz de contagiar e iluminar até mesmo o mais cético e frio dos homens.
Ao chegarmos a sensação é de que não estávamos sós. A nosso lado uma multidão dos nossos amores, ainda que invisíveis, nos abraçavam.
Junto com eles e por eles chegamos!
QUE DEUS ILUMINE A TODOS!

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

ARCO O PINO > SANTIGO DE COMPOSTELA - 20.09.2010

A CHEGADA

A expectativa era tamanha que antes das 5 da manhã já estávamos prontos para o início do 29.º e último dia de caminhada. Este não era um dia qualquer e sim o derradeiro e também o dia que nos levaria às escadarias da Catedral de Santiago de Compostela.
Pé na estrada e as últimas paisagens da Galícia não mais eram observadas, tal era a ansiedade que os dominava. O número de peregrinos neste dia aumenta absurdamente, talvez 100, 200, num curto trajeto. Estávamos juntos e descemos a ladeira do "Monte do Gozo" e de onde se avista toda a cidade de Santiago, embalados pelo desejo de logo pisar a praça do Obradoiro, o que demoraria mais de uma hora para que isso ocorresse.
Além da mochila às costas, um outro fardo também muito pesado era deixado para trás: a possibilidade de não chegar à Santiago. Agora cada qual, ali estava, com suas percepções e desejos, livres para chorar, para rir ou até mesmo instrospectar-se e festejar o que fora realizado.
Diz-se no Caminho, que para muitos dos peregrinos o caminho terminou, e para tantos outros ele estará apenas começando.

PRONTOS PARA A BALADA

Após 30 dias de extenuante preparação, com caminhadas diárias para emagrecimento, sol para bronzeamento e centenas de horas de reflexão de como ser um bom conquistador, estão aí os 4 rapazes, prontos para a balada em Santiago de Compostela.

O CAMINHO NÃO TEM IDADE

AGLI AMICI EDO e CISELLA

Grazie per le vostre parole d'animo. Dai, forza. Siamo quasi arrivati. Domani ci siamo molto felici per stare tanto vicino al nostro proposito. Quando arriviamo alla piazza de Obradoiro, ci ricorderemo dei nostre amici Edo e Cisella. Facciamo una preghiera speciale per voi. Che Dio ci protega a noi tutti. Un grande abbracio de tutti i brasiliani che hanno camminato con voi. A presto.

Ribadiso de Bajo > Arca - 19.09.2010

(clique na foto para ampliar)

Aldo nos campos leoneses

província de León

Um aprazível paradouro foi o de Ribadiso de Bajo que restaurou nossas forças para o penúltimo dia de caminhada. E fomos em frente embrenhando-nos logo à saida do albergue pela densa e escura mata de carvalhos sob um forte frio e um silêncio total em que se ouvia apenas o pisar cadenciado dos peregrinos sobre as folhas e pedras das trilhas. Conversas matutinas quase não mais há. A expectativa da chegada é clara em cada um dos rostos. As incertezas dos passos iniciais também vão aos poucos desaparecendo. Cansados, mas não vacilantes. Não mais temem as agruras do Caminho.

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

O BOM HUMOR PEREGRINO

É da natureza humana as pessoas tentarem se parecer mais novas. Porém este cidadão tem usado um argumento muito diferente ao chegar aos albergues.

Como detesta dormir na parte superior do beliche, usa com os hospitaleiros, os seguintes argumentos para obter a cama de baixo:

- Sou noninho!!

- Já sou velhinho!!

- Já tenho 64 anos e não consigo subir!!

- Os meus amigos podem, eles são novos!! (obrigado)

- Já não tenho forças!!

Palas de Rei > Ribadiso de Bajo - 18.09.2010

trecho de uma poesia afixada à porta do albergue

Onze horas - próximo a Mélide

Rio Iso ao lado do albergue de Ribadiso

Ponte próxima à Ribadiso

Estes são os Caminhos por aqui

Saimos de Palas de Rei com o marco apontando 65km até Santiago. Esta iminência da chegada nos faz inquietos e ansiosos. Esquece-se os medos e as dores. O número de peregrinos aumenta em muito a partir dos 100km antes de Santiago. Estamos agora no meio dessa multidão de caminhantes. Para se obter a "COMPOSTELANA" é necessário que o peregrino tenha percorrido pelo menos 100km a pé, isto explica a grande concentração de peregrinos nos últimos 100km da Galícia. Fazíamos parte do pequeno grupo que partira de Saint-Jean-Pied-de-Port, na França.
Nosso trajeto do dia de hoje previa apenas 22km, porém, sem vagas em albergues, caminhamos mais 4km até Ribadiso de Bajo. Apreensão e um certo cansaço já nos dominava, pois encontrar vagas em albergues a partir da segunda metade do dia é tarefa complicada. Porém, Ribadiso de Bajo nos acolheu com um dos melhores albergues em que nos hospedamos em todo o Caminho. De construção rústica, ao estilo medieval, sem luxo mas confortável, fincado à entrada da cidade e à beira de um rio.
Neste cantinho do céu, iremos descansar e nos preparar para os últimos 40 quilômetros atè à Catedral de Santiago de Compostela.

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

AMIGOS E SEGUIDORES DO BLOG

Em razão de algum tipo de deficiência, ou seja, inexistência e até precariedade dos equipamentos, não nos tem sido possível fazer os relatos e expor as imagens como gostaríamos.
E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

UN RICORDO DEGLI AMICI !

Carissimi amici e fratelli del "camino" Eddo e Cisella.
Siamo rimasti troppo felici quando abbiamo ricevuto il vostro carino messagio. Le parole che avete scritto ci hanno datto un nuovo animo e ci hano fatto pensare come e bello trovare persone nel "camino" como voi: amiche, sincere, compagni e pronti a ci aiutare. Ringraziamo a Dío. vogliamo dire che e appena cominciato il "camino" della nostra amicizia, che dovrà crescere al di la del tempo. Speriamo vederci quanto prima e ricordare i giorni faticosi del "camino" e la alegria de viverli insieme.

UMA PRECE NO CAMINHO

Uma vela como prece

Igreja de Santiago em Villafranca del Bierzo

A igreja de Santiago localizada em Villafranca del Bierzo é um pequeno templo, despojada do luxo e riqueza ostentado por algumas outras do Caminho.
No seu interior,um absoluto silêncio e uma penumbra que me fizeram suplicar preces que não fazem parte do meu dia-a-dia. Rezei, à minha forma de rezar, por pessoas que me são importantes, pessoas como a dona Lourdes Andreola a quem pedi saúde e que continue a ser o importante elo de toda a família.

Portomarin > Palas de Rey - 17.09.2010

Rio Miño e restos da antiga Portomarin

Quando a rotina parece querer instalar-se, algo de novo acontece no Caminho. Vinhamos repetindo manhãs de caminhar prazeroso seguido de tardes quentes, horas difíceis.

Logo à saida de Portomarín experimentamos vários momentos de uma longa escalada que, associada à escuridão da madrugada, não era o melhor que desejávamos.

Dia já posto e metade dos 24km cumpridos, topamos com o inusitado do Caminho: uma pequena casa, quase casebre. Atendido por hospitaleiros voluntários, ofereceu-nos carimbo na credencial, café e chá, gratuitamente. Estranhei a oferta em razão da fase mercantilista por que atravessa o Caminho de Santiago. Conversei com um dos hospitaleiros, um jovem norte-americano e este disse-me que o propósito da associação a que pertence é buscar o resgate da história da generosidade e reaver o espírito religioso que por séculos perdurou. Não havia como duvidar destes propósitos. Mas havia incorrido neste êrro que é o de perder a crença na benevolência das pessoas.

Ao final da viagem, passando por extensos e sombreados bosques de carvalho e saboreando os prazeres da caminhada, constatara que o Caminho de Santiago é assim mesmo: misterioso, imprevisível e cheio de lições.

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

Samos > Portomarin - 16.09.2010

Marco dos 100 km restantes até Santiago de Compostela

Saída de Sarria para Portomorarin

Entre Sárria e Portomarin e seus
bosques de carvalho


Onze quilômetros separavam Sárria de Samos. Vencido o trajeto alí nos prostramos para aguardar por Aldo e Mingo. A espera foi em vão. Resolvemos seguir até Portomarín mais 23 km à frente, num trecho longo e penoso somente amenizado pelo frescor das densas matas da verde Galícia.

Às 3 da tarde o grupo se reencontrou. Para refrescar os ânimos, um chopp e uma magnífica Paella de mariscos preparada no albergue de Portomarin e muito longe dos hábitos franciscanos que deve ter um peregrino. (hehehehe)

Cebreiro > Samos - 15.09.2010

No alto do Cebreiro

Monastério de Samos

Trilhas entre o Cebreiro e Samos


Cadeia de montanhas entre o Cebreiro e Samos

Um parabéns pelo seu aniversário de 60 anos cantado por seus amigos de caminhada no alto da montanha e em completa escuridão emocionou o peregrino Aldo. O dia começava espetacularmente. Paz e calma nos fazia companhia, às vezes quebrada apenas pelos constantes esforços para galgar os montes. Nestes momentos o desconforto nos conduz a um estado quase incontrolável de irritação e agressividade. Tento amenizar estes efeitos com um pouco de bom humor, ingrediente indispensável no nosso dia a dia. Ah! como seria bom aquele "sidecar" do Julião, oferecido antes do inicio da viagem!

Por uma sucessão de erros, a "caravana" se dispersa e ao final do dia constata-se que Aldo e Mingo seguem por uma trilha alternativa que os conduzem até Calvor, onde pernoitam. Eu e Guacho seguimos por outra via e que nos leva à cidade e ao Monastério de Samos.

Preocupados à noite pensávamos: A próxima cidade, Sárria. nos reunirá novamente.

Mas não fora bem assim!!

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

Villafranca del Bierzo > Cebreiro

Seis horas da tarde e o Ave Fênix já conta com 120 peregrinos e totalmente lotado. De repente Jesus Jato me convida para ir a uma bodega, um misto de destilaria e cantina de vinho. Buscaria cachaça para queimada, um ritual já bastante famoso no Caminho e normalmente realizado às 10 horas da noite. Consiste numa mistura de cachaça, açucar e café ateando-se fogo. Até que cesse a queima, há uma dezena de exaltações, sendo que em uma delas diz Jato: "viva a los locos peregrinos brasileños" seguido de um uuuuuhhhhhhhhhhh!!!!!!!! para o delirio dos presentes.
A festa acabara e afinal era preciso pensar no amanhã, na impiedosa subida do Cebreiro.
Despedimo-nos de Jato e partimos muito cedo, como já era costume. Quase uma dezena de vilarejos até atingir o sopé da montanha. Daí prá frente 10 km de duríssimo ascenso. Montanhas são espetaculares nas fotografias ou sentado no sofá de casa. Subir as suas encostas é outra questão.
No início da tarde despontamos no cume do Cebreiro, a porta da Galícia. De fôlego restabelecido a beleza da montanha agora era outra, igual a uma fotografia.

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

Ponferrada > Villafranca del Bierzo - 13.09.2010

(clique na foto para ampliar)

A caminhada já durava por quase um par de horas e beirando oito da manhã quando partiram as ultimas estrelas do Vale del Bierzo dando lugar a um lento alvorecer e desnudando bucólicas paisagens. Os diversos vilarejos que entremeavam Ponferrada e Villafranca foram um a um sendo deixados para trás, ficando n'alma uma estranha e paradoxa sensação de conquista e de perda.
Atingimos Villafranca 24 km depois da partida e num percurso que duraria somente 5 horas.
Havia duas razões para esta decisão de ali parar: estávamos no sopé do Monte Cebreiro, uma das mais emblemáticas e mais temida montanha do Caminho de Santiago e que amanhã nos desafiaria; e segundo, o albergue Ave Fênix, de Jesus Jato, certamente um dos mais importantes hospitaleiros deste Caminho.
A noite ainda não começara.
Muita coisa acontecerá no Ave Fênix.

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

UMA PRECE NO CAMINHO

Para uns tio, amigo e até um pouco de pai. Para outros um leal amigo, com um jeitinho especial de "diretor". E a ele, ARMINDO DORO FRANDOLOSO, oferecemos as nossas preces humildemente suplicadas na capela do refúgio de Ponferrada e compartilhamos nossos passos neste Caminho cheio de vida, assim como será a sua.
MINGO, GUACHO, ROBERTO e ALDO.

DR. SANTIAGO EM AÇÃO

Após 600 kms de caminhada, o Dr. Santiago esteve em nova visita aos seus pacientes, e desta vez seu diagnóstico foi de que todos estão em boas condições de saúde e perfeitamente aptos a prosseguirem com o projeto inicial de chegarem à Catedral de Santiago de Compostela.

Dr. Santiago

El Acebo > Ponferrada - 12.09.2010

(clique na foto para ampliar)

Castelo dos Cavaleiros Templários - Ponferrada

Entre El Acebo e Molinaseca

Igreja em Molinaseca

O albergue de El Acebo é gratuito e sobrevive de donativos dos peregrinos. Nas mesmas condições também é servido o jantar: sopa cremosa, arroz com salsicha e salada mista. O café da manhã, ainda que simples, é o suficiente para o inicio da jornada. Cada um faz a sua doação, anonimamente. É um acontecimento raro no Caminho.
El Acebo está situada a mais de 1000 metros de altitude e a paisagem ao seu redor é magnífica, rodeada de outros montes.
Saímos às 7 da manhã quando o dia ameaça surgir. O frescor da manhã nos acompanha. Há um profusão de cheiros no ar. Mas um não me engana. Há cheiro de olíbano no ar, árvore da qual se extrai o incenso fartamente utilizado pela igreja católica e que gravara em minha mente ainda na tenra idade.

E o trajeto continua até Ponferrada, onde se desce por aproximadamente 400 metros numa distância de apenas 18 kms.

Ainda antes das 11 da manhã batíamos à porta do albergue. Um recado na porta nos avisa: abierto a partir de las 2 de la tarde.

O Castelo dos Templários, fincado no centro da cidade histórica foi então nosso objetivo e visitar o seu interior custou 6 euros, pouco mais do que um "bocadillo" mas que certamente enriquece a quem possa conhecer um pouco da sua história, da interferência e perseguição que sofreram de reis e soberanos e da própria Igreja até o seu completo exterminio ocorrido no inicio do século XIII e da importância que tiveram os Cavaleiros Templários no destino da humanidade.

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...