Após a crucificação de Jesus Cristo, o apóstolo Tiago passa vários anos pregando o evangelho na região norte da Espanha, onde está situada a vasta Galiza, naquela época uma província romana. Já na Palestina, sua forte personalidade e fama de grande evangelizador rapidamente se espalharam causando a inveja e ira de sacerdotes e reis. Em uma de suas pregações, foi preso e decapitado, a mando de Herodes, no ano 44. Teodoro e Atanásio, dois discípulos que o acompanhavam, resgatam seu corpo, trazendo-o de volta à Espanha onde foi sepultado.
Oito séculos se passaram em total obscuridade até que o bispo da região da Galiza, Teodomiro, informado de que luzes intensas iluminavam as cercanias do Monte Libradón, ordena investigações. Pouco tempo bastaria para que o sepulcro do apóstolo fosse descoberto, revelando ao mundo um longo mistério.
A partir desse acontecimento nasce Santiago de Compostela. A construção do templo é imediatamente iniciada sob a ordem do rei Afonso III. Santiago transforma-se em pouco tempo num símbolo vivo da resistência cristã à permanência dos muçulmanos na Península Ibérica. Surgia um mito religioso de extrema importância para os planos da Igreja Católica, que afetada pelo declínio do Império Romano, estava desejosa de ocupar a base do território ibérico dos mouros, promovendo-se a retomada de sua cristianização.
O Campus Stellae, que inspirou Compostela, foi então imediatamente resguardado pela Igreja Católica, e Santiago de Compostela consolidava-se em definitivo, juntamente com Jerusalém e Roma, como um dos principais centros de peregrinação cristã na Europa.
A rota Jacobea experimentava então uma explosão de peregrinações nos seus três primeiros séculos de existência, tendo atraído povos de todas as classes e das mais distantes regiões da Europa. Rotas surgem dos mais variados pontos do continente, notadamente da França e da Espanha.
Deste advento, começam a despontar, ao longo do Caminho, os pequenos vilarejos, hospitais, igrejas e monastérios. Estradas, pontes e albergues são construídos às centenas. Em defesa dos peregrinos surgem diversas ordens de cavalaria, militares, monásticas e religiosas.
Os cristãos, agora em maior número em todo o norte da Espanha, protegidos por reis e encorajados pelo mito de Santiago, partiram definitivamente em combate ao inimigo e vão, aos poucos, promovendo a expulsão dos mouros de uma ocupação que já perdurava por mais de três séculos.
Depois do século XIV, a reconquista territorial e supremacia cristã na Península Ibérica já era fato consumado. A Europa passa a enfrentar a peste negra e guerras são deflagradas por todos os cantos. O Caminho de Santiago atravessa então um longo período de declínio.
No entanto, a história contemporânea afirma com total convicção que os primeiros três séculos de existência do Caminho de Santiago podem ser considerados como um dos mais extraordinários acontecimentos sociológicos vivenciados pelo homem, tendo contribuído decisivamente para o restabelecimento da doutrina cristã aos povos da Península Ibérica.
Somente ao final do século XX é que o Caminho resgata a fase dourada das peregrinações, e a Rota Jacobea sai do ostracismo.
Hoje, percorrida pelos modernos viageiros, mantém a mística da fé, desde que medievais peregrinos por estas terras se lançaram. Um misto de lenda e de história de mais de um milênio de existência e que resistiu diante de um implacável carrasco: o tempo.