terça-feira, 31 de agosto de 2010

CONVERSANDO NO CAMINHO

Roberto com um morador de Grañon


Encontrei-o parado à porta de casa. Bastante receptivo, o que aliás é uma das caracteristicas de boa parte do povo desta região, perguntou-me de onde sou. Disse-lhe que apreciei muito a sua pequena Grañon, de milenar fundação, e a sua conservada arquitetura. Concordou e entre outras coisas disse-me que a história sempre será importante para todos os povos, mas que é preciso viver o presente. Com isso concordei, dizendo-lhe também que o futuro reconhecerá os homens do nosso presente, como tendo sido uma bela história. Concordou sorrindo-me.
Nos despedimos com um ADIÓS...

RAPIDINHAS DO CAMINHO

>> Vilson Toson: Obrigado, vamos tropeçando, mas vamos indo e acho que dá para dispensar o "sidecar" do Julião. Reserve o Black.

>> Julião: Já estamos um dia na frente do planejado.

>> Waltinho, Bira & Cia: Na volta tem novidades.

>> Galera dos comentários: Obrigado, Obrigado.

>> Carlos Guedes e família: Estou contigo meu irmão.

O BOM HUMOR PEREGRINO


Azofra >> Villamayor Del Rio





Azofra >> Villamayor Del Rio

EDDO e CISELLA, nossos novos amigos italianos, pessoas espetaculares e mais um dos presentes do Caminho, completavam 35 anos de casados e para comemorar fomos convidados para uma bela pasta seguido de uma "frittata", ou seja a nossa fortaia, algumas taças de vinho e algumas músicas em bom italiano. Comemoração contida, fomos dormir antes das 10h, pois um pouco depois das 5h da manhã já iniciávamos a caminhada em madrugada enluarada porém fria, com temperatura em torno de 10 graus. Até Villamayor Del Rio foram 33kms, passando inicialmente por SANTO DOMINGO DE LA CALZADA, uma das mais importantes cidades do Caminho pelo que representou na história polìtica e cultural da época. Dentre as lendas e mitos criados pelo Caminho, é de Santo Domingo a da "Galinha que cantou depois de assada" diante de um cético sacerdote. À uma da tarde já nos instalávamos num confortável albergue, localizado fora do centro. Para que não pareça muito sofrível esta nossa estada, convém ressaltar que o centro compõe-se de apenas uma dúzia de casas.
Peregrinos valentes, estes, pois 270kms já haviam sido completados e 1 dia à frente do tempo. No mais restava tratar das dores do corpo.

E ASSIM VAMOS CAMINHANDO

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CONFISSÕES DE UM PEREGRINO


Em 29 de agosto ultimo fechou-se um decênio da 1.ª caminhada. Se na época foi emocionante vivenciar esta experiência, hoje, repetindo esta caminhada junto novamente com Roberto, Domingos e Aldo, redobrou-se o sentido de fazer este caminho, muito mais coisas que deixamos para trás, para buscar novas emoções e significados do nosso caminhar. Agradeço a comprensão e apoio dos familiares e amigos e deixo um grande abraço para todos, e que minha familia, especialmente minha filha Renata continue a enviar mensagens de apoio a todos nós. Abraços, Guacho.

O BOM HUMOR PEREGRINO


Uma das máximas do Caminho e muito ao contrário do que se pensa, deve o peregrino ser um sujeito bem humorado. Nada daquele ser quase sobrenatural, túnicas escuras puídas pelo tempo, feição fechada como se jamais tivesse mostrado seus dentes ao mundo e olhos mortos como um entardecer sem sol. E é nesse espírito que, paralelo aos momentos de instropecção de cada um, que vamos ajustando e aprofundando também nossas relações de conhecimento e amizade.
No início um Aldo Sergel apenas instrospectivo, quase monossilábico, porém aos poucos um Aldo se livrando de um semblante que lhe dá seriedade, sizudes. Vai dando espaço ao humor e a expresões espirituosas como: "No hay glória sin dolor". Sim, em espanhol mesmo. Também já foi "batizado" de SABIÁ, em alusão ao famoso pássaro devorador de frutas. Assim como o pássaro, este também vislumbra uma fruta à distancia. Não houve resistência ao apelido e até gosta de assim ser chamado.
E ASSIM VAMOS CAMINHANDO...

CONFISSÕES DE UM PEREGRINO

Estrearemos a partir de hoje, além do breve relato da caminhada diária, a coluna "DEPOIMENTOS DO PEREGRINO", com a participação inicial de Domingos Frandoloso.

"Fazer o Caminho de Santiago foi um sonho e um desafio. Agradeço ao amigo Roberto e mano Guacho esta oportunidade de estar vivenciando esta experiência inesquecível em que a dor de superar os obstáculos que a natureza nos oferecia são o bálsamo para curar as imperfeições que vivemos. Fazer o Caminho não é só abraçar a natureza com os olhos, mas principalmente penetrar na beleza de poder interiorizar os bons pensamentos e a espiritualidade que nos envolve. Valeu a pena seguir pelos caminhos íngremes e assim aperfeiçoar as arestas da vida. Um abraço a todos que estão torcendo por nós. DOMINGOS. "
Navarrete >> Azofra

Arriscamos os primeiros passos com o dia ainda escuro, o que já não era nenhuma novidade. Somente o frio da manhã é que de certa forma surpreendia a todos. A topografia plana favorecia o bom ritmo de caminhada e 3 horas depois, sem parar, já aportávamos em Nájera, distante 16 kms do ponto de partida. Sem parar como disse há pouco é uma expressão relativa, pois de quando um quando um breve "pit stop" para beliscar umas uvinhas nos belíssimos e saborosos campos de vinhedos da província de La Rioja.

Já em Nájera e uma parada para um "desayuno" com frutas e seguimos definitivamente rumo à AZOFRA onde nos hospedamos num confortável albergue com quartos para apenas 2 pessoas, considerado um luxo para "andarilhos" além de outras pequenas mordomias mas que fazem uma grande diferença.

sábado, 28 de agosto de 2010

Torres del Rio >> Navarrete

O alberque em que nos instalamos é um casarão de vários centenários, aliás como são todos os outros. Atendidos por uma jovem espanhola, ou melhor, mal atendidos, fomos socados num quartinho 3 x 4m com mais 7 pessoas, ou seja 12 ao todo. Resignamos com a condição imposta e resolvemos não reagir à humilhação pois como dizem, peregrino que é peregrino dorme até ao relento.

Muito longe de clarear o dia já caminhávamos em direção à Logrono lá chegando por volta das 11h. É uma cidade grande e de longas avenidas o que demorou para que pudéssemos ultrapassá-la. Embora já tivessemos caminhado 21 kms, mais 13km nos separavam de Navarrete. Resolvemos enfrentar o desafio, chegando ao destino às 2:30h da tarde. Embora a última parte não tivesse sido um trecho longo, esta foi sem dúvida a jornada mais penosa. O sol causticante da tarde minam as forças do caminhante. Os momentos de reflexão vividos nas primeiras horas do dia, ali não se repetiria. Porém considerando todas as dificuldades enfrentadas, este foi um dos mais produtivos dias. O restante da tarde e noite foi gasto com andanças pela milenar NAVARRETE e uma "cena" no restaurante "Molinos" com espaguetti, peixe, bisteca, batata e vinho.



Ayegui >> Torres del Rio

Mais uma vez hospedamo-nos agradavelmente no albergue municipal de Ayergui. O hospitaleiro, era um alemão cujo nome não ficamos sabendo e também nada entendiamos do que falava mas extremamente cordial e respeitoso. Convivemos horas agradáveis com Francisco, um espanhol, administrador do bar e restaurante. Disse que gosta muito dos brasileiros. Ficou mais feliz ainda quando lhe dissemos: La España fue e és la mejor del mundo...hehehehe.

6:30h, pé na estrada, madrugada ainda escura. A topografia desta região pode ser considerada bem plana se compararmos com o trajeto dos dois primeiros dias. Saíamos os 5 já tradicionais companheiros peregrinos: Aldo, Ivaldir, Domingos, Roberto e Thiago. Curtos diálogos entremeados por algumas pausas. É natural que isto ocorra, pois é a necessidade da conversa com o seu "eu" que vem se aproximando. Afinal este é um dos principais objetivos a que se propõe o peregrino.

Depois de muito caminhar, passando por vários vilarejos e quando o sol já dava mostras que começava a sugar as forças dos peregrinos, aportamos e Torres del Rio às 2 da tarde para percurso de 28 kms. Do albergue falaremos no próximo capítulo.


Cirauqui - Navarra


Puente la Reina >> Estela >> Ayegui

Depois de uma espetacular estadia no albergue SANTIAGO APÓSTOL, recuperamos nossas forças para iniciar um novo dia. Em razão do implacável sol que vinhamos sentindo nestes primeiros dias, resolvemos madrugar e às 6:00h em ponto iniciamos a caminhada para Estela. Meia hora após chegamos à "Fuente de vino Irache" oferecida aos peregrinos. Uma rápida comemoração, lanternas na mão e ziguezagueando por estreitas trilhas fomos rompendo os quilometros até que um pouco antes do despertar do dia atingimos a pequena Cirauqui, uma cidadezinha de vários centenários e fincada no cume de um monte. Nenhuma alma pelas ruas e apenas um pequeno cachorro vagueando pela pequena praça. Não fosse este fato bem poderia parecer uma fotografia clicada a centenas de anos. Outros pequenos vilarejos se sucederam. Nossas condições fisicas vem dia a dia apresentando progessos o que nos dá um maior alento. Perto do meio dia passamos por Estela, uma cidade considerada grande para os padrões até então observados, porém resolvemos seguir um pouco à frente até atingirmos Ayegui em cujo albergue nos hospedamos precisamente à 1 da tarde. Havíamos rompido 25 kms sem muitas dificuldades, porém algo começava a mudar na rotina dos primeiros 4 dias: a busca da caminhada solitária.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

The Trip


Uma singela lembrança da embarcação dos astronautas de Santiago. Uma boa sorte pra vocês gangue! Abraços

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cizur-Menor >>> Puente la Reina

Carregar peso em demasia é um dos principais pecados do peregrino e havíamos incorrido nele. Despachamos para Santiago, para posterior resgate, objetos e pertences que não nos seriam de extrema necessidade: sacos de dormir, camisas, colete, guia do caminho, canivetes, cortadores de unha, e outras bugigangas que seriam dispensáveis, pois neste momento tudo é uma questão de escolha.
8:00h da manhã e já havíamos atingido o cume do Monte del Perdon. O simples fato de caminharmos mais leves torna a peregrinação contemplativa e reflexiva, o que aliàs è o principal objetivo a que nos lançamos pelas trilhas de Santiago e desde que galgamos os primeiros passos nos Pireneus.
A região de Puente la Reina foi um dos mais importantes da região da Navarra, onde foram tomadas importantes decisões durante os sèculos XI, XII e XIII por reis e rainhas sendo também e ainda importante região de domínio dos Cavaleiros Templários.
Passava pouco mais do meio dia quando nos instalamos no albergue "Santiago Apóstol".
Catedral de Eunates - construída pelos Cavaleiros Templários entre os séculos XI e XII


Larrasoaña >>> Cizur Menor

6:20 da manhã quando arriscamos as primeiras passadas sob uma exuberante lua cheia e de uma intensa brisa que nos envolvia. Estávamos todos bem graças a uma relaxante tarde do dia anterior quando visitamos o Museu de Santiago Zubiri Elizalde que graciosamente nos mostrou o acervo acumulado durante 22 anos, periodo em que foi hospitaleiro do Albergue Municipal de Larrasoaña. Recebeu do autor e dos peregrinos um exemplar do livro "Santiago de Compostela - Confissões de um Peregrino", do qual é protagonista em uma das passagens da narrativa.
O objetivo deste dia de caminhada era Cizur Menor e que obrigatóriamente passaria por Pamplona, o que se deu sob um sol escaldante de fritar miolos. Até Cizur Menor despendemos mais de uma hora de caminhada para romper os 4 kms que as separavam. Embora tenha sido um trajeto de apenas 21 kms, nossas forças foram extremamente exigidas. Chegamos às duas da tarde, vergados ao peso da mochila. Bem...disto trataremos no próximo capítulo.
Roncesvalles >>> Larrasoaña

A ressaca dos pireneus ainda se fazia sentir, mas de qualquer forma um novo dia surgia e caminhar era preciso. De Roncesvalles até Larrasoaña eram mais 27 kms, ou seja, a mesma distancia do dia anterior, porém numa condição melhor, pois está situada numa região onde predominam os vales. Embora tenhamos caminhado a maior parte do trajeto sob uma chuva fina e insistente, desembocamos em Larrasoaña às duas da tarde sob intenso sol. Estávamos relativamente "inteiros" porém nada que nos credenciasse a novos passos neste dia.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010


Este albergue foi construído há pouco tempo e tem como finalidade acudir peregrinos perdidos na montanha, principalmente durante as tempestades de inverno, quando geralmente é surpreendido pelo anoitecer precoce.

Saint-Jean-Pied-de-Port >>> Roncesvalles

A subida dos Pîreneus sempre foi considerada, desde os tempos napoleônicos, uma das mais terríveis travessias, em razão de suas implacáveis escarpas, da chuva, do vento, ora calor, ora frio. Embora não fosse um soldado de Napoleão, pude sentir toda a dureza destas encostas a martelarem meu corpo. Pernas, pés, e os pulmões buscando a última reserva de oxigênio. Chegar até Roncesvalles exigiu algo a mais de mim e não por mim mas por aqueles que me incentivaram e estão torcendo e é isto que lhes devo, não por obrigação, mas por princípios.

Felizmente, a me acompanhar (e neste dia a me amparar) um grupo de mais 4 bravos peregrinos: Aldo, Ivaldir, Domingos e o jovem sul-matogrossense Tiago. Embora as dificuldades tenham sido imensas para mim, estes chegaram entre de razoável à boas condições fìsicas à Roncesvalles. A noite incumbiu-se de calar as dores.


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PRÉ-ESTRÉIA

Chamaremos de pré-estréia aquilo que acontece antes do primeiro dia de caminhada. Poderíamos também criar um cenário onde planos exaustivamente elaborados fossem, um a um sendo plenamente realizados, assim como deveria ser qualquer plano. Porém o primeiro sinal do que viria veio com o esquecimento da credencial do peregrino, que embora causando frustração ao peregrino Domingos, este fato poderia ser resolvida com a obtenção de uma outra em Saint-Jean-Pied-de-Port. Passado este fato e logo após chegarmos à Madrid, o peregrino Aldo constata haver extraviado o seu bilhete aéreo. Nova correria para obtenção de um outro bilhete e 5 minutos antes do embarque lá estavamos a postos novamente. O momentâneo alívio logo se transforma em indignação, pois a companhia Ibéria simplesmente cancela o vòo e comunica aos passageiros que seriam embarcados somente às 20:45h. Após literalmente subirmos no balcão da companhia fomos encaixados num vòo das 4 da tarde que saiu às 5. Jà em Plamplona um prometido táxi de 60 euros até Saint-Jean, custou 110 euros. Os costumeiros alberques de 5 a 8 euros jà não mais nos recebiam. Os hotéis mais simples, também lotados, também não mais nos aceitavam. Num dos melhores haviam vagas, porém custaria a cada peregrino a bagatela de 100 euros. Mais uma ligeira prospecção pelas cercanias dos albergues e topamos com a francesa Maria Camino, embora duvide que seja este seu nome, e é muito provavelmente criatividade de uma marqueteira, mas de qualquer forma muito amável e prestativa. Nos alojou em sua casa por "meros" 25 euros cada. Esperamos que se alguma penitència tenha que ser paga, que esta tenha sido na pré-estréia e que a partir do primeiro passo da caminhada que se inicia amanhã, 23 de agosto, este blog faça com que as letras nele digitadas tragam risos e emoções.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Minha Mochila


Domingo - 22 de agosto - o reinício



Manhã de domingo, temperatura por volta de 10 graus, os primeiros raios de sol e a expectativa toma conta destes 4 brasileiros: Ivaldir Frandoloso, Domingos Frandoloso, Aldo Sergel e Roberto Fernandes. Mochila às costas e o cajado completam o figurino que se repetirá pelos próximos 30 dias. O portal D'Espagne marca o inicio desta jornada que inevitavelmente ficará marcado para sempre em suas vidas.